Já há muito tempo que não me sentia assim. Mas também, já há muito tempo que não tínhamos uma discussão.
Olhando para a discussão percebo porque a paz durou tanto. A ignorância é um estado de felicidade. Ninguém me contava o que se passava, portanto, para mim estava tudo bem. E eu prefiro assim.
Há quem acredite em afinidade, há quem acredite em preferências. Eu acredito nesta ultima. Não acontece em todos os casos, mas quando acontece eu chamo de preferências e não de afinidade.
Apesar da discussão, ainda acredito que estou bem com esta situação. Afinal, já aceitei isto há muito tempo.
Ainda não começou a falar e eu já sei o que aí vem. Pessoas coitadinhas, ou melhor, pessoas que se habituaram a ser coitadinhas. E serão assim para sempre... Gostava de controlar a minha reacção, de ficar indiferente. Mas fico logo chateada, porque sei o que aí vem. Note to myself: trabalhar na reacção, ficar indiferente
Um dia sei que ficarei bem com isto. Que nada disto me vai incomodar.... pelo menos, é este o meu objectivo.
Até lá, faço tudo o que a minha consciência me manda. Só assim consigo dormir à noite. Saber que faço o que qualquer pessoa com a mínima responsabilidade faria. Sem desculpas.
Esta semana pediram-nos para fazer um slide no powerpoint sobre nós. Cada elemento da equipa tem que preencher isto para que quando venha um novo colega, tenha um sitio onde encontrar toda a informação sobre a equipa.
Eu não me importo de escrever sobre o meu percurso profissional, o que gosto de encontrar no ambiente de trabalho nem tão pouco qual é a minha profissão de sonho.
O que me incomoda mesmo é escrever sobre mim.
Parece que nunca tenho nada para dizer. Não tenho nenhuma caracteristica diferente das outras pessoas.
Nunca pratiquei nenhum desporto, não toco nenhum instrumento, não faço colecções de nada. Os meus hobbies são iguais a qualquer outra pessoa que faça viagens, leia livros e que tenha uma conta Netflix. E isto, qualquer pessoa faz.
Talvez deva pôr isso: uma pessoa qualquer que ande por aí.
Pergunta para queijinho: malta que nasceu após 1985, não acham que nasceram na pior altura que havia para nascer?
É que eu acho mesmo que sim.
Num destes dias no café, apercebi-me pela conversa de duas colegas que entre as duas já visitaram sudeste asiático todo. Em média devem ser mais velhas que eu 10 anos. Pode dizer-se que tiveram tempo para isso e disponibilidade (€). Começaram a trabalhar no tempo das "vacas gordas".
Já eu, quando comecei a trabalhar, levei logo com um aumento de impostos brutal. A partir daí o cinto foi apertando. Os ordenados ficaram mais pequenos e as coisas mais caras.
Não consegui viajar tanto quanto queria. Por falta de companhia ou por falta de dinheiro mesmo.
Mesmo passar férias em Portugal já custa um dinheirão. Desde há uns anos para cá que Portugal está na moda, e é muito caro fazer férias em Portugal.
É verdade que tenho casa (bom, ando a pagar ao banco) e carro e não preciso de andar a contar trocos até ao fim de mês.
Mas custa-me ouvir estas coisas.
Eu trabalho tanto ou mais e no final tenho menos.
Se tivesse nascido uns anos antes, já não era assim.
Conheci a R. talvez em 2011/2012, ainda estava no meu antigo emprego; fomos colegas de trabalho. Gosto muito dela e quando me mudei, mantivemos o contacto.
Já a conheci com a vida que tem. Não foi algo que fui acompanhando como com as amigas de infância que tenho, toda a vida dela já existia quando a conheci.
Ela costuma dizer que não se junta com o namorado porque quer manter a vida independente. Diz que não tem filhos porque nunca sentiu essa necessidade (já vai a caminho dos 40).
Com o passar dos anos, deixei de acreditar nisto. E tenho várias razões válidas para isso.
Com o aumento de confiança que fomos tendo, soube que ela e o namorado se separam durante um tempo. Ele queria trabalhar no estrangeiro e ela não. Nenhum dos dois cedeu e acabaram por se separar. Juntaram-se outra vez quando ele regressou. Ela conta o tempo de namoro desde o inicio; ele só conta desde o último ajuntamento. Pormenores, pormenores....
Quando me juntei com o meu moço,ela deixou escapar "Só comigo é que ninguém se junta".
Ela decidiu mudar de casa; queria uma casa mais no centro da cidade. Sabem o que o namorado que tem casa própria fez? Nada! Podia-lhe ter dito para ir viver com ele, mas não. Ela trocou de casa e continuam a morar em casas separadas.
De vez em quando organizamos um jantar convívio com o grupo do meu antigo emprego. Já estava tudo combinado, restaurante, dia, horas. À ultima da hora ela diz, "não posso ir, tenho que salvar a minha relação". Ainda hoje estou na dúvida se salvaram ou não. Ninguém sabe, ninguém quer perguntar.
No último convívio com direito a churrascada, vieram as caras-metades de toda a gente, menos o dela (já é normal não a acompanhar). Ela é uma pessoa tão querida que comprou presentinhos para todas os filhos dos amigos.
As vidas dos amigos do grupinho, inclusive a nossa, vai evoluindo. Uns casaram-se, outros tiveram filhos.
O último caso em particular, é o da I. que vai ter um bebé daqui um mês. A cunhada da I. está a organizar-lhe um baby shower e convidou-nos, claro. A minha amiga já está mega contente e foi a primeira a responder que ia, apesar de ser a 50 km de distância. Já criou um grupo no whatsapp para combinarmos tudo e nota-se que está super feliz em participar.
A minha teoria é: com a oferta dos presentes e com esta felicidade toda por causa de um baby shower de um bebé que não é dela, ela está a projectar uma necessidade que tem e que não é preenchida.
Acredito que a pessoa com quem ela está, não é a pessoa certa para ela. Acredito se ela estivesse com alguém que quisesse assumir um compromisso e quisesse ter filhos, ela já se teria ajuntado e teria um filho. E estaria mais feliz.
Cada um é feliz à sua maneira; pode ser um caso desses e eu não estar a compreender.
Mas acredito que ela não é feliz; mas também não me vou meter na vida dela.