Este fim de semana estava no cabeleireiro a arranjar os pés num canto escondido onde não se vê o resto do salão.
Oiço a seguinte conversa:
- M, pára de falar nisso. Larga esse assunto! - diz a cabeleireira para a neta de 6 anos que andava por lá
- Mas porque é que a menina teve de morrer? Ficava doente uns dias e depois vinha para casa já boa - responde a neta
Passado uns minutos percebi o contexto. A neta de uma das clientes, que também era uma criança, também tinha morrido. Não percebi se foi de acidente (ou algo parecido) ou uma daquelas doenças fulminantes que de vez em quando aparecem nas crianças.
Mas o comentário da M. tocou-me tanto. Para ela, as crianças não deviam morrer, só os adultos.
Eu não sei se acontece o mesmo convosco, mas eu tenho uma tendência muito grande para relaxar no trânsito. Naquele espaço de tempo começo a descomprimir e a minha mente começa a vaguear.
Ora, no meio do trânsito e a vaguear chego a conclusões e muitas vezes processo coisas que me dizem.
Ontem foi dia de chegar à seguinte conclusão:
“Este Natal, passei mais tempo com crianças do que com adultos”
Eu explico porquê. As conversas dos adultos passam pelos seguintes temas:
- Leis laborais. Porque é que uns têm direito a umas coisas e outros não.
Já temos esta conversa à vários anos. Deixa de ter graça quando sabemos que temos razão e as outras pessoas são teimosas.
- Futebol
Não é o meu tema. Sou do benfica e da selecção mas fica por aí.
- Vida dos outros
Eles gostam de conversar sobre a vida dos outros. Ainda se conhecesse as pessoas em questão ainda podia mandar o meu bitaite, mas não conheço.
- A não renovação do contrato da prima que trabalha no centro comercial
O contrato da prima não vai ser renovado porque “não tem perfil”. Isto é uma resposta standard que as empresas dão para não renovarem o contrato. Está mal, sim, mas a sociedade é assim.
Mas a empresa não podia dizer isto à prima porque ela pode ficar com depressão.
A modos que depois destas conversas, fartei-me e fui juntar-me às crianças. Jogámos:
As crianças são um espectáculo.... a sério que são mesmo. Então, quando falam, é como se o que estivessem a dizer fosse uma verdade universal. Adoro quando começam a falar com muita convicção. Ora vejamos:
A história começa junto ao carro quando estávamos a arrumar as tralhas da praia:
Encontro dentro da minha mochila um pacote de pastilhas Trident e pergunto:
- Priminho, queres uma pastilha elástica?
- Quero. Mas isso não são pastilhas, são chicletes! - diz o priminho muito convicto
Fico um bocado confusa já que para mim é tudo a mesma coisa. Mas eis que me esclarecem "Aqui em cima são chicletes, não são pastilhas".
(Isto faz-me lembrar aquela música fantástica "Chiclete, mastiga.... Chiclete, deita fora...." )
Um problema de dialecto, portanto.
Eu falo Lisboeta e lá em cima falam Nortenho. As discussões que já tive (com murros na mesa incluidos) só porque se dizem as coisas de forma diferente ou que uma palavra tem um significado diferente (às vezes, bem diferente)...