Ontem decidi ir ao supermercado mais perto de minha casa. Não tinha muitas compras para fazer e nada de especifico, portanto aquele servia perfeitamente.
Ora, este supermercado em questão é daqueles que está cheio de coisas nos corredores, na linha de caixas e também nas caixas. Cumprir a distância de segurança é um desafio.
Escolhi uma caixa qualquer para pagar. Honestamente, não me importei se tinha muitas ou poucas pessoas. Quando tento fazer isto, sai-me o tiro pela culatra.
Nas caixas ao lado, havia uma confusão. Eram duas caixas muito juntas e por causa disto as pessoas faziam só uma fila porque não percebiam que eram duas em vez de uma.
Oiço a funcionária dizer: "A seguir.... Não vêem que são duas caixas. Isto não é fila única, façam duas filas".
Oiço alguém da fila dizer: "Estou a cumprir a distância de 2 metros"
A mesma funcionária responde: " Aqui não está a 2 metros de mim. Não faz diferença cumprir a distância de segurança"
E é por isto que temos os números que temos. Quando os próprios funcionários que deviam fazer cumprir as regras, estão a dizer às pessoas para as quebrarem, os números sobem.
Pergunto-me como é que esta funcionária reagiria ser tivesse apanhado covid. Provavelmente, iria dizer que foi culpa dos patrões que a obrigaram a trabalhar ou das pessoas que foram fazer compras. Seria culpa de todos, menos dela que não quis cumprir a distância de segurança.
Sigo algumas influencers portuguesas no instagram. Sigo-as porque gosto do conteúdo que produzem. Olho sempre para este conteúdo com espírito crítico e muuuuuuuuuiiiiiiiito filtro. Por isto, nunca comento muito o que elas fazem porque sei que é o trabalho delas.
Mas, ultimamente, sinto-me um bocadinho revoltada com elas. Quando vejo que estão de férias, ignoro logo e passo para o próximo story ou post. Reparo que estão a fazer publicidade a hotéis e têm férias de graça.
Tenho andado à procura de sítios para ir de férias e por curiosidade fui ver alguns que são partilhados pelas influencers. Não existiu um que ficasse a menos de 200 euros à noite. Em 3 dias, gastaria o equivalente a um ordenado mínimo isto sem contar com refeições e transporte.
Percebo que seja o trabalho delas e que não recusem estadias de graça. Mas pergunto-me quantos dos seguidores destas influencers irão hospedar-se nestes hotéis porque foi partilhado por elas e quantos terão capacidade para pagar isto. Compensará mesmo aos hotéis oferecerem estadias vendo os preços que estão a praticar?
Fui ver também aqueles hotéis em que já passei férias e reparei que subiram os preços no mínimo em 50%.
Dizem eles que agora têm mais custos com a limpeza e desinfecção. Entendo se estiver relacionado com protecção individual dos empregados uma vez que antes não utilizavam este tipo de equipamentos. Nalguns casos, chamam a isto, "taxa de limpeza" e cobram ao cliente. O que na minha perspectiva é só estúpido. Higiene e limpeza é algo básico e não deveria ser cobrado ao cliente.
Posto isto, acho que este vai ser o ano em que não vou sair de casa.
Acontece que enquanto estou a passar a ferro ou a pintar as unhas, estou a ouvir podcasts sendo que o Fuso é o primeiro da lista.
No episódio que ouvi ontem, a Bumba estava a falar de conhecer o lodo, que é como quem diz, se já se passaram ou não durante este tempo de isolamento social.
Eu confesso que já me passei várias vezes. E digo isto sem vergonha nenhuma. Porque é normal. Umas piores que outras, mas a verdade é que já aconteceu várias vezes.
A pior aconteceu há uns dias quando me esqueci de desligar o sistema de rega. Digamos que regou em cima de betume fresco. Por acaso não estragou nada. Neste dia passei-me (comigo própria e com o marido) e virei as costas a tudo e fechei-me no quarto. Já tinha esgotado a minha capacidade de lidar com a vida.
Enquanto estive no escuro do quarto, apercebi-me do quanto certas coisas me faziam falta e contribuíam activamente para a minha saúde mental. Sabem o que me fazia falta? A coisa mais desvalorizada e estapafúrdia que alguma vez podia existir. A viagem trabalho-casa que dura 20-30 minutos.
Este 20-30 minutos eram só meus. Ia no carro a ouvir a rádio, muitas vezes a dançar ao som da música. Mas acontecesse o que acontecesse, aquele tempo era só meu. Não tinha que trabalhar mas também não tinha que orientar a casa. Estava ali no limbo.
Há um mês que não tenho este limbo. Desligo do trabalho e acontecem duas coisas: ou estou a orientar a casa ou estou a ouvir o marido a fazer arranjos em casa. Muitas vezes, as duas ao mesmo tempo e a ter que contribuir para as duas.
Às vezes, decidia ligar a televisão depois do trabalho para ver uma série que estou a acompanhar. Estava sempre atenta se o marido precisava de ajuda, portanto não conseguia relaxar. Ou o marido chamava-me várias vezes antes de chegar aos 15 minutos de episódio. Desistia muitas vezes.
Pelo que havia pequenos encontros com o lodo e aquele houve aquele grande.
Depois de falarmos, decidimos que eu ia ter esta meia-hora só para mim todos os dias. Ele chamou-lhe "o teu tempo de cagar". Vamos lá ver quanto tempo é que isto vai durar. Fico surpreendida se conseguir passar no primeiro dia.